segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Você foi enganado!


Ficar mais velho sempre foi pra mim uma sensação de aprendizado enorme. Gosto da ideia de aprender algo e sair do estado de conforto ou de ser o que sempre foi, mas agora nessa faixa entre 30 e 40 anos, o nível de aprendizado tem sido diferente. Não tenho aprendido como ser adulto ou coisa do gênero, que aconteceu mais fortemente na fase do 20 a 30 anos. O que tenho aprendido, refletido e ressignificado comigo hoje em dia diz respeito a ser quem sou. 

Cuidado, você pode estar sendo enganado!
Olhar pra dentro e perceber quem sou, está diretamente ligado a repensar muita coisa do que fiz e que muitas vezes acreditei e tive certezas, pois me ensinaram que assim é que era pra ser. Hoje, uma das maiores certezas que tenho na vida é de que fomos enganados desde pequenos. O mundo que nos fizeram acreditar ser e ter, não é o mundo que acredito que tenha e seja hoje em dia. E livrar-se dessa cultura toda que lhe é impregnada desde o início quando seus pais desejam desesperadamente te ver falando "papai" e "mamãe", desde quando começam a te dizer o que é "bonito" e "feio", é muito complicado. Descobrir que muito do que você fez foi apenas reproduzir, é foda de assumir, admitir e se dar a chance de começar novamente. Eu tenho passado por essa dificuldade. Mas a cada vez que aceito jogar fora um conceito antigo, cada momento que permito-me não saber nada sobre algo, me sinto melhor, mais leve e mais capaz de a partir de agora ser mais crítico, sensato e de viver minha vida livremente. 

Não quero aqui dizer que fui vítima. Meus pais não me enganaram propositalmente. Eles fizeram e fazem o melhor que podem até hoje. Mas esse não é o mundo que quero ensinar pras pessoas à minha volta. Existe algo além dessa vida corrida que nos dizem que é "normal". Existe pessoas mais interessantes pra conhecermos do que as que aparecem na tv. Existem muito mais por aí. É se dar a chance de se esvaziar, por um momento ficar sozinho, curtir uma solidão e a partir daí, começar novamente. 

Nos ensinam desde cedo que a felicidade está na conquista.
Quando penso nisso, quando percebo o quanto de vida nova que tem a minha volta. O tanto de coisas que ainda posso ser, viver e experienciar, fico até empolgado. Mas dessa vez com mais calma. Sem tanta pressa. Sabendo que tenho meu próprio tempo e não o tempo que me dizem ser preciso pra atingir "sucesso". Me sinto realmente como se estivesse no filme Matrix, descobrindo que o que vivi a vida toda, foi apenas uma ilusão. Os medos que nos colocam, as regras que nos ditam, são apenas maneiras de se tentar deixar tudo como sempre esteve. Podemos ir muito além disso. Espero realmente que essa fase de redescoberta que tem acontecido nesses últimos anos possa me livrar dos meus demônios e dos demônios que tentaram me impor. 

Hoje em dia me sinto muito mais tranquilo com pessoas que tentam dizer que você é diferente num sentido pejorativo. Ser diferente é o normal da história toda. Hoje em dia não vejo tv, não curto comédias românticas, não acredito que é preciso estar junto com sua "alma gêmea" para estar realizado. Não acredito que é preciso haver ausência de coisas ruins para ser feliz. Percebo que estar só é um momento único para se contemplar. E que momentos com outras pessoas precisam ser muito bem vividos, pois terão fim e que você não pode depender emocionalmente deles.

Passei daquela época de rebeldia, onde achava que o mundo girava a minha volta e que haviam armado pra cima de mim e parto pra tentar enxergar que realidade posso criar a minha volta, já que não concordo com a realidade que existe para muitos. Essa possibilidade de você ser dono do seu próprio caminho é a sensação que mais confunde e faz muitos apenas reproduzirem e viver o que todos já vivem, pois ao mesmo tempo que  te dá a chance de viver algo espetacular, é inseguro, pode não dar certo e muitos não gostam da ideia de começar tudo novamente. Já pra mim, é o que me seduz. O desconforto que me gera conforto, pertencimento e que me gera a ideia de que estou no caminho "certo", o caminho que acredito.



Não estou com essa segurança toda nem com total domínio sobre tudo(não quero ter esse domínio total nunca), mas confesso que estar em outro caminho, que não o da "vida feliz" e de "sucesso" pregada e construída pra gente, tem me deixado bem orgulhoso da fase que vivo.

E você? O que faria se agisse como se não tivesse medo?

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto!

    Creio que a autocrítica seja uma força necessária para superar a mecanização da humanidade. Ela deve ser usada sem zelo para nos mover intelectualmente e mesmo que na maioria das vezes reproduzamos o conhecimento, acredito que o “reconceituamos”, o reinventamos com a experiência vivida e a criatividade inata a cada um.

    E mesmo falando em reprodução de ideias, não pude deixar de lembrar de uma letra de Belchior:
    “Eu tenho medo e medo está por fora
    O medo anda por dentro do teu coração...
    Eu tenho medo de abrir a porta
    Que dá pro sertão da minha solidão”
    Pequeno Mapa do Tempo

    Andressa

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